O perdão se paga perdoando, não devemos carregar mágoas do passado

Uma surpresa me presenteou no final do meu pedido

Quando o atendente do bar trazia a minha bebida notei um homem sentado sozinho com um copo de cachaça pelo meio em uma mesa no fundo do estabelecimento.

Com uma aparência de um senhor de uns sessenta anos, cabelo grisalhos, magro, moreno, trazia na face a marca do sofrimento E quando nossos olhos se encontram eu pode ver seu olhar vazio e triste

E ao mesmo tempo descobri que era ele: Totonho driblador. Finalmente minha procura terminou.

Estava a três metros dele, minhas pernas estremeceram.

Criei e coragem e com a voz trêmula disse:

-Totonho?

Ele, talvez reconhecendo a voz, ergueu os olhos e imediatamente voltou a olhar para o copo na mesa.

Um olhar perdido no nada.

Eu repeti:

-Totonho Driblador?

A inércia continua, e dez segundos de silêncio cortante.

Então criei coragem e falei:

-Totonho, sou eu. Birigui.

- Eu te procuro a muito tempo para pedir seu perdão. Preciso dele para continuar a viver.

- Era muito jovem. Não sabia o que estava fazendo.

E as lembranças daquele dia fatídico vieram novamente a minha cabeça, que me atormentavam por anos

Semifinal da Copa municipal. Meu time era o Cobreloa e do outro lado o Cantareira. Que tinha como grande estrela o Totonho driblador. Ele era chamado assim por que amava driblar todos os adversários pelo menos umas dez vezes por jogo.

Muitos apontavam que a seleção teria Garrincha na ponta direita e Totonho na ponta esquerda, pôr os dois personificavam a essência do show no futebol

Naquela semifinal tinha olheiros do Flamengo que andaram quilômetros para conferir a fama de craque do Totonho driblador.

- Totonho, eu vi você escapando pelo driblando todo mudo, você iria parar dentro do gol. Nós não iríamos para a final e dificilmente eu teria conseguido realizar meu sonho.

Então ele ainda olhando para o fundo do copo me perguntou:

- Valeu a pena realizar seu sonho de ser um joga da seleção brasileira?

Minha voz embargou.

- Nunca imaginei que aquela entrada iria acabar com sua carreira, não era minha intenção

-Eu realizei muitos sonhos no futebol. Mas se pudesse voltar atrás eu deixaria você fazer o gol e se tornar o Totonho Driblador do mundo

Nesse momento eu já estava em lágrimas. E percebi que corria uma também pela sua face.

Então ele com muita dificuldade se levantou, tomando sua bengala foi até o balcão, pagou e se foi.

E eu fiquei ali naquela mesa daquele botequim naquele vilarejo no meio do nada olhando para aquele copo de cachaça pelo meio.

Depois de algum tempo me levantei e fui até o balcão para pagar a conta e voltar para a minha realidade.

E foi quando tive uma surpresa.

O dono do bar me disse

- O senhor Antônio deixou pago a sua conta. E mandou lhe avisar que o você não deve mais nada.